Prémio Nobel da Literatura 2011




4 poemas de Tomas Tranströmer,

Prémio Nobel da Literatura 2011



O poeta sueco Tomas Tranströmer é o Prémio Nobel da Literatura de 2011. Escreve sobre a morte, a história, a memória e é conhecido pelas suas metáforas.No início do ano, o blogue Poesia Ilimitada, publicou quatro poemas do poeta sueco, que aqui transcrevemos:


HISTÓRIAS DE MARINHEIROS


Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente

de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza

,azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos

linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.


Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca

de seus proprietários, sentados no bulício da cidade, e afogadas

tripulações vêm a terra, más ténues que fumo de cachimbo.
(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas

e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia

vive numa mina, de dia e de noite.
Ali, onde o único sobrevivente pode estar

junto ao forno da Aurora Boreal escutando

a música dos mortos de frio).
(1954)


§

A ÁRVORE E A NUVEM


Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,

com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.

Leva um recado. Da chuva arranca vida

como um melro ante um jardim de fruta.


Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.

Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,

à espera, como nós, do instante

em que flocos de neve floresçam no espaço.
(1962)

§



DESDE A MONTANHA


Estou na montanha e vejo a enseada.

Os barcos descansam sobre a superfície do verão.

«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»

Isso dizem as velas brancas.


«Deslizamos por uma casa adormecida.

Abrimos as portas lentamente.

Assomamo-nos à liberdade.»

Isso dizem as velas brancas.


Um dia vi navegar os desejos do mundo.

Todos, no mesmo rumo – uma só frota.

«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»

Isso dizem as velas brancas.
(1962)

§

PÁSSAROS MATINAIS


Desperto o automóvel

que tem o pára-brisas coberto de pólen

.Coloco os óculos de sol.

O canto dos pássaros escurece.


Enquanto isso outro homem compra um diário

na estação de comboio

junto a um grande vagão de carga

completamente vermelho de ferrugem

que cintila ao sol.


Não há vazios por aqui.

Cruza o calor da primavera um corredor frio

por onde alguém entra depressa

e conta que como foi caluniado

até na Direcção.


Por uma parte de trás da paisagem

chega a gralha

negra e branca. Pássaro agoirento.

E o melro que se move em todas as direcções

até que tudo seja um desenho a carvão,

salvo a roupa branca na corda de estender:

um coro da Palestina:


Não há vazios por aqui.


É fantástico sentir como cresce o meu poema

enquanto me vou encolhendo

Cresce, ocupa o meu lugar.


Desloca-me.

Expulsa-me do ninho.

O poema está pronto.
(1966)

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